Associação Portuguesa de Psicogerontologia

“Cuidados de Enfermagem à Pessoa com mobilidade reduzida – tetraplégicos e paraplégicos”

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“Cuidados de Enfermagem à Pessoa com mobilidade reduzida – tetraplégicos e paraplégicos”

Cuidados de Enfermagem a Pessoas com: Acidente Vascular Cerebral, Amputação e Lesão Vertebro Medular

 

 

“Cuidados de Enfermagem à Pessoa com lesão vertebro-medular”

Teresa Mendonça

 

Pensar em pessoas com mobilidade reduzida é iniciar um processo de reflexão complexo, pois, é um assunto que abrange diferentes perfis de pessoas afetadas, quer devido ao tipo de mobilidade reduzida, quer devido à temporalidade e ao défice de redução, quer ainda, à individualidade de cada pessoa.

Assim, perante esta diversidade de pessoas com mobilidade reduzida, vamos pensar e refletir, nas pessoas com lesão vertebro-medular e nos cuidados que estas pessoas necessitam, considerando sempre a sua independência, ainda que adaptada.

A lesão vertebro-medular (LVM) continua a ser, na história da Medicina, das situações mais devastadoras que o Homem pode enfrentar.

A maior parte das lesões medulares é consequência de um traumatismo externo, súbito e violento, como no caso em que é exercida uma força excessiva sobre a coluna vertebral como resultado de ocorrências com aceleração e desaceleração violentas e súbitas, ou no caso das feridas perfurantes, sobre a coluna, como por exemplo, com armas brancas ou de fogo. Contudo, algumas situações crónicas de doença da coluna vertebral, como estenose, artrite ou osteoporose, também podem constituir sérios riscos de lesão medular. (Phipps et al, 2003)

As lesões vertebro-medulares resultam de alterações estruturais ou fisiológicas dos componentes da coluna vertebral e/ou espinal medula, advindo limitações nas funções motoras, sensitivas ou anatómicas. (Padilha et al, 2001) Podem ser classificadas, de acordo com o nível da lesão, em tetraplegia ou paraplegia, e, estas ainda podem ser temporárias ou permanentes, completas ou incompletas. Quanto mais alta for a lesão, maior é a extensão, do corpo, atingida nas limitações. Designa-se por tetraplegia, a lesões a nível cervical, em que são afetados os membros superiores e inferiores e o tronco. E, designa-se por paraplegia, a lesão a nível das regiões dorsal, lombar ou sagrada. Na paraplegia, os membros superiores não são afetados.

A LVM caracteriza-se por distúrbios neurovegetativos dos segmentos corporais localizados abaixo da lesão, manifestando-se por alterações da mobilidade e da sensibilidade superficial e profunda. Uma lesão é completa quando há perda total das funções motora e sensorial, e, incompleta quando há alguma preservação dessas funções. (Phipps et al, 2003)

O impacto na pessoa, com a realidade duma lesão medular, essencialmente se esta for permanente, é muito forte e desestruturante da configuração pessoal, quer devido à perda de anos de vida produtiva, quer devido aos custos pessoais e socio económicos para a sociedade.

A experiência pessoal de uma LVM acarreta consequências a diferentes dimensões, interferindo na imagem corporal, nas relações interpessoais e alterando, senão destruindo, muitas das vezes, os projetos de vida.

O processo de adaptação a uma LVM é longo, contínuo e passa por diversas fases que envolvem diferentes atores: a pessoa, a família e/ou familiar cuidador e os diferentes profissionais de saúde envolvidos. É um processo que passa pela aprendizagem da pessoa viver com as capacidades que ficaram conservadas e compensando ou substituindo as que ficaram alteradas.

A pessoa lesionada e o contexto envolvente têm de ser “moldados” neste processo adaptativo, o que implica uma reconstrução pessoal da imagem, dos aspetos psicossociais e culturais.

A sociedade, a par dos discursos de inclusão social e da legislação protetora da pessoa com deficiência, tem uma responsabilidade acrescida na formação/informação dos cidadãos, desmistificando mitos e edificando o agir humano e construtivo, facilitador do conhecimento e da convivência destemida com as diferenças individuais de cada um.

O conhecimento visando o esclarecimento, leva à compreensão e apazigua as angústias e os temores, quer individuais quer coletivos. Marie Curie apontava que “nada, na vida, deve ser temido, somente compreendido”, o que enleva a necessidade de se procurar, constantemente, compreender mais para se temer menos.

No decurso do tempo, poucas alterações surgiram na abordagem médica à pessoa com lesão vertebro-medular, desde que Alfred Reginald Allen em 1909-1911 descreveu os mecanismos primários e secundários destas lesões.

A abordagem inicial à pessoa com lesão vertebro-medular passa pela estabilização óssea e posterior reabilitação e fisioterapia. Contudo, novos conhecimentos surgem no horizonte científico sobre a investigação com células estaminais, numa perspetiva de futuro para novas abordagens médicas às pessoas com este tipo de lesões. Estas abordagens enfocam as estruturas à volta da medula que podem ter importância na melhoria/recuperação dos lesionados vertebro-medulares.

Os Cuidados de Enfermagem, às pessoas, têm como finalidade a promoção do bem-estar, reforçando a premissa de “Viver com qualidade de Vida”. E, neste caso, em particular das pessoas com lesão vertebro-medular, os Cuidados de Enfermagem devem ser considerados à luz da reeducação funcional, da prevenção de complicações, da promoção do autocuidado e da inclusão social. (Guia de Boa Prática de Cuidados de Enfermagem à Pessoa com TVM, Ordem dos Enfermeiros, 2009)

A complexidade da lesão medular e as repercussões na vida da pessoa lesionada fazem dos cuidados uma enorme preocupação em todas as suas fases, desde a abordagem no pré hospitalar, ao serviço de urgência, à reabilitação de longo prazo. (Phipps et al, 2003)

Os Cuidados de Enfermagem à Pessoa com LVM são centrados na unicidade da pessoa nas diferentes fases da lesão: na fase aguda, no pré-hospitalar/serviço de urgência, na fase intermédia, nas Unidades de Internamento, e, na fase tardia, nos Centros de reabilitação e no domicílio/fase das sequelas.

Os Cuidados de Enfermagem à Pessoa com LVM têm especificidades e indicações para todos os sistemas fisiológicos, procurando minorar a síndrome de imobilidade ou desuso e alicerçando-se no princípio que reabilitar é prevenir.

A participação da família e/ou familiar cuidador é decisiva e deveras importante nos cuidados preventivos, pois, as recorrentes complicações de saúde/doença colocam com frequência a pessoa com LVM, no papel de doente.

Na pessoa com LVM todos os sistemas fisiológicos acabam sendo afetados, como consequência da imobilidade, surgindo alterações nos sistemas cardiovascular, respiratório, gastrointestinal, urinário e músculo-esquelético. (Hoeman et al, 2000)

Em suma, os Cuidados de Enfermagem à pessoa com LVM estão relacionados com:

– a ajuda e/ou substituição durante a alimentação/nutrição;

– a ajuda e/ou substituição durante a eliminação vesical e/ou intestinal;

– a ajuda e/ou substituição nos cuidados de higiene;

– a ajuda e/ou substituição nas transferências da cama para a cadeira e vice-versa, entre outras;

– a manutenção da integridade da pele;

– a promoção e/ou ensino à pessoa e/ou ao familiar cuidador, de posicionamentos, alternância de decúbitos e técnicas de mobilização passiva e/ou ativa sempre que possível;

– o ensino à pessoa e/ou ao familiar cuidador para o despiste de complicações;

– o apoio psicológico à pessoa e família;

– o encaminhamento da pessoa e/ou família para outros profissionais da equipa transdisciplinar, sempre que necessário.

A partilha constante, entre a pessoa, a família e os profissionais de saúde, bem como, o empenhamento ativo de todos, considerando sempre as potencialidades remanescentes da pessoa com lesão vertebro-medular e a sua intervenção nas tomadas de decisão, são indispensáveis para o sucesso de todo o processo terapêutico e de cuidados.

Bibliografia:

– HOEMAN, Shirley et al – Enfermagem de Reabilitação: Aplicação e processo, Loures, Lusociência, 2000, ISBN 972-8383-13-4

– ORDEM DOS ENFERMEIROS – Guia de Boa Prática de Cuidados de Enfermagem à Pessoa com Traumatismo Vertebro-medular, 2009, ISBN 978-989-96021-2-0

– PADILHA, José Miguel et al – Enfermagem em Neurologia. Coimbra Formassau, 2001, ISBN 972-8485-18-2

– PHIPPS, Wilma J. et al – Enfermagem Médico-Cirúrgica: Conceitos e Prática Clínica vol. IV, Loures, Lusociência, 2003, ISBN 972-8383-65-7

Associação Portuguesa de Psicogerontologia

A Associação Portuguesa de Psicogerontologia-APP, Instituição Particular de Solidariedade Social sem fins lucrativos e de âmbito nacional, dedica-se às questões biopsicológicas e sociais inerentes ao envelhecimento e às pessoas idosas, visa a promoção da dignificação, respeito, saúde, autonomia, participação e segurança das pessoas idosas, num quadro de envelhecimento ativo e de solidariedade intergeracional, e de uma sociedade mais inclusiva para todas as idades, promove novas mentalidades e combate estereótipos negativos relativamente à idade e ao envelhecimento.